segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Amor à prova

A dor de não ser ouvida
Pela alma,
O grito da alma,
O apelo que salva
A alma da dor.
O gesto de ler um pensamento
De entender um momento
De falta de cor
Ctrl!
Controle-se!
Há que se entender
Que amor pode ser cego
Que quebram-se elos
Quando o amor sente tremor.
Há que esperar
O ciúme abrandar, e com ele
Palavras de afronta levar
O ódio a se dissipar.
E aprender
Que não é qualquer vento
Que derruba um elo forte
A não ser que se sopre
Em ajuda ao quebrantar.

quarta-feira, 21 de maio de 2014

Alhear-se

Abram alas para todos,
pela felicidade todos querem passar.
E o que passa são os sorrisos,
os amigos (os que ousaram tentar).
Não sei se são eles que levam o riso
ou se é o riso que os quer afugentar.
Vejo sorrisos passando.
Vestem roupas puro glamour
para impedir que lhes vejam a alma.
Sorriem com o canto da boca pintada,
salientam os olhos maquiados.

Há mais inverdade no externo
do que careceria para esconder o interno.
Tamanho é o desespero de fugir de si
que erram a dose e se atrapalham frente ao espelho.
E a lua contempla tudo de tão longe
que o desejo de estar lá me faz senti-la perto.
Invejo esse 'alhear-se'
e as anotações sobre nós que ela já deve ter feito.

sábado, 8 de março de 2014

Cave sorrisos na alma de alguém

Ócio que traz a saudade, que convida a dor, que desequilibra as lágrimas. Ócio que escorrega sal e água pelas curvas de um rosto triste. Ócio de quem muito tem a fazer e nada faz, nada quer fazer, nada lhe dá prazer. Por isso escreve.
Os demais seres não lhe emprestaram volúpia, não lhe encheram as mãos de riso, não lhe fizeram a caridade do arrepio ou da gargalhada. Por isso escreve.
Como quem cava um buraco, escreve.
Como quem cava um buraco com as mãos, escreve.
Como quem nas mãos cava um abismo, escreve.
Desnorteada, escreve. E este é o seu norte.
Cava porque não tem motivos para qualquer outra coisa. Escreve porque esta é a melhor maneira de cavar.

Por isso cava, cava o próprio coração. E isto dói! Traz à tona verdades deixadas pelo caminho, daquelas que doem como doem as mentiras. Faz lembrar de pessoas - estiveram sempre por ali. Chega a ter vontade de trocar as atuais pelas "pretéritas", ou fazer de todas elas perpétuas. E isto também dói.
E por que não são todas elas possíveis de permanecer? Por que insistem tanto em cavar-lhe a alma? Por que não ficam? Por que não voltam?
Desfazer, fazer, refazer - em outras sequências, talvez...
Insiste em cavar. Por isso escreve. E dói! Por isso cava. E chora.

Um outro lugar, uma outra pessoa, uma música menos ou mais ousada, um clima úmido e uma lareira (nunca vira ou tivera uma lareira) - tudo isto e bem mais que isto é o que quer. Deseja tudo e nada.
Deseja, apenas deseja . E cava, freneticamente, como quem alvoroça a mente à procura da melhor piada, e se presenteia o riso mais profundo (e mais falso) que consegue. Entende que é preciso se esforçar (quem irá se esforçar?), é preciso cavar, é preciso escrever, escrever, cavar, se esforçar... e emprestar ao mundo o maior buraco que se pode conseguir cavar, o mais profundo, o mais improvável, também o mais labirintoso. O buraco da alma. Aquele que tantos cavam uns nos outros.

Buracos que doem. Buracos que ousam cavar.
Quem lhes deu o direito de cavar-lhe? Quem lhes propôs mexer?
Não ousem mais lhe cavar a alma. Cavem-lhe um sorriso. Um sorriso que transcenda a alma.
Um sorriso que não se possa escrever. Uma gargalhada tão forte que consiga cavar milhares de outras gargalhadas em outras almas.
E assim escrevam. Escrevam coisas boas. Que saiam risos como borboletas de todas as letras. E se, por acaso, de tanto cavarem, ferirem a lágrima, que sejam lágrimas banhadas de riso.
Risos que escrevam na alma.



quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Nostalgia minha de todos os dias

Descamba sobre mim a nostalgia de todos os dias. Dos dias febris aos dias gélidos; dos dias funestos aos cheios de vida. Desabam os lamentos, as lamúrias, as murmuras. Espremem com tal força a alma que estala. Ao raiar do dia já não sentirei mais as costelas.
O corpo recebe toda a chacoalhada dos dias mortíferos. A noite é como um forno assando, dando textura à massa já apertada, espremida entre os dedos de algum desamor. Amanhecem os músculos enrijecidos, a cabeça dolorida, os olhos sobressaltados, o pulso pura tensão.
Quem dera houvesse analgésico para angústia no coração.
Quem dera os dias felizes deixassem a mesma constatação.
Quem dera quando eu sorrisse, o mundo fosse contagiado pela mesma emoção.
Se quando alguém sorri todos sorriem, porque quando gritam todos doem os ouvidos? O mundo não sabe que é mais fácil cortar um sorriso do que enxugar uma lágrima? Estancar lágrimas com piadas ou fazer chorar quem gargalha?
Que fracasso o do palhaço ao ver a platéia indiferente à sua anedota... Que dor a de quem chora ao ver o mundo rir de sua desgraça...
E então a nostalgia de todos os dias encerra. Ao olhar para o cume do papel nem lê o que provocou. Seu ego se satisfaz ao ver que está ali, materializada, transformada em rabiscos de uma tinta que é quase rubra ou quase cinza, que tem cheiro de incenso e é morna como uma lágrima.

Amanhã ela retornará me enchendo de tensão, me obrigando a procurar ensandecida por caneta e papel, Rabiscarei as paredes, quem sabe! Depois ela (a nostalgia) esboçará um sorriso e me fará ver as possibilidades das horas restantes. Ah nostalgia! Pões metade da minha alma nas letras – a outra metade é engolida pelas entrelinhas.

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Do tempo e da existência - dialogando com Saymon Freire

- O que é a saudade? É o amor?
- É o tempo!
- Então é possível sentir saudade do que não se ama?
- É sim. Até do que nunca existiu, não se passou.
- Ah sim, do que não se conhece é fácil sentir saudade. Talvez o motivo seja este. Mas, e do que não se ama justamente por conhecer, é possível?
- Se isso já tiver te dado o mínimo de conforto, sim. E creio que esse conforto começa antes mesmo do conhecimento propriamente dito.
- Provavelmente. Acredito que antes de conhecer alguém a fundo, o mínimo de conforto é preciso. E talvez seja esse "mínimo" que possibilita o conhecer, como um gole de tequila antes de uma iniciativa insegura.
- Exatamente. Ou como o toque com a mão molhada na nuca para entrar no rio gelado.
- Verdade. A sensação de jogar-se na água é de extrema adrenalina. Desvairados, nos jogamos! Corpo em completa tensão. Molhados, sentimos aquela sensação poeticamente idiota de que vale a pena. Depois, secos, pura nostalgia.Comparável às relações, digo, a todas?
- Todas, sem dúvida alguma.
- Sei não. Tem umas que deixam o corpo (a alma) molhado o resto da vida. Não secam nunca, e vice-versa. A saudade traz sensação de segurança?
- Só a da existência. Mas ela é alternada com o medo do esquecimento
- A saudade me dá medo. É o mesmo medo que tenho de inventarem a máquina de voltar no tempo.
- Morro de medo, não nego. Principalmente por medo de definhar voltando, querendo ficar por lá.
- Estranho. Eu tenho medo da ida. Você tem medo da volta (risos). Poder retornar sempre me traz alívio. O que me inquieta é não saber se poderei voltar, ou se voltarei a mesma – impossível.
- Ah, o meu passado tem muita coisa nebulosa e incerta, mais do que o meu presente. Seria muito fácil me perder por lá...
-O que me inquieta na saudade é que ela é feita de pensamentos. Tenho medo de que os pensamentos me façam mudar de rota. Ficar presa em um pensamento e viver em prol dele. Presa pela saudade... – tic-tac – Humanos: tão inconscientes do abstrato e ao mesmo tempo tão dependentes dele. Até mais. Cansei de discutir o incontrolável.

Descomposta e feliz

Sensação gostosa de que coisas mágicas podem acontecer a qualquer momento.
Coisas bobas.
Coisas de paixão.

Uma ansiedade adolescente, como se realmente houvesse alguém que me acordasse com um bom dia meloso ao amanhecer.
Vontade de fazer coraçãozinho de batom no espelho,
escrever o nome de alguém (não se sabe quem!) várias vezes no caderno
e colocar sua foto como papel de parede dos meus aparelhos tecnológicos.
Aquele estado de espírito em que você fecha o olho e sente um cafuné. E ao abrir os olhos e perceber a realidade, ao invés de frustração, sorri da própria ousadia de imaginar o imprevisível.

Dormir de conchinha consigo mesmo.
Presentear-se guloseimas e chocolate.
De você para você, a mais desejada felicidade.
Não significa não querer ou precisar do outro.
Significa não depender das migalhas do outro.
Quem precisa de uma metade incompleta?
Antes amar-se e ser encontrada inteira do que esperar e na espera deteriorar-se.

Sensação de ser,
de estar,
de poder,
de corresponder-se.
Orgasmos mentais, como um bebê que sente prazer nas coisas mais banais.
Volúpia insensata. E quem lá de precisa de sensatez para ser feliz e doar felicidade?
Descomponha-me. Deixe-me ser feliz para sempre, hoje.

Vida duplicada. Dois mundo e alguém solitário - rascunhando Tássio Nogueira

Queria que existissem dois sóis, duas luas, dois “eu”.
Se existissem duas chances de viver, de acertar, de errar. Ora, para ter o direito de errar, o direito sagrado de ser imperfeito, de se perder em si.
Fingir ser duas pessoas, fingir a felicidade, fingir, fingir e fingir. São sintomas de uma vida inventada, na qual não cabe mais ao menos quem se é de verdade.
Falta somente o universo ser dois, porque acabamos nos vendo entre mundos distintos. Imagino-me sentado para ver o por dos dois sóis e depois olhando as duas luas.
 De repente você percebe que é um só, mesmo sendo necessário dois mundos para cabe-lo. Deveria haver um jeito de dobrar o universo e nos tornarmos duplos também. Só assim poderíamos, de alguma forma, libertar nossas almas e vivermos, sem o horror de sermos vistos nus... nus.
As outras pessoas correm, e insistem em mentir, falar e não viver, achar e não dizer.


Certas pessoas fazem tanto silêncio que dá para ouvir suas mentes barulhentas, como um tráfego de pensamentos em mão única que jamais chegam ao exterior. Para onde vão? Vão para um quarto velho e sujo, cheio de infiltração, que escorre pelos cômodos bons e lembram que ainda estão lá. A lixeira da mente já está cheia, os arquivos escrevem uma vida transpassando a outra. É preciso criar mais uma capa, mais uma vida. Quem sabe dessa vez? É tentando ser a gente que, fingindo, nos esquecemos de quem somos e saímos por aí nos duplicando...

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Dias intermináveis

A verdade é que o sol não se põe tão facilmente para alguns - para estes os dias são maiores. As noites então, por demais são infinitas.
A verdade é que o peso não é o mesmo para todos!
Há quem carregue mais, talvez porque possa suportar mais. Não que haja injustiça na divisão dos fardos! O que se vê é que não são todos que suportam ser forte.
Há quem esteja cansado dos próprios atributos. Há quem queria ser fraco, incapaz, invisível.
Há quem procure assombrado por um recanto de anonimato, um dia escondido nas montanhas, à sombra de um corpo maior que impeça aos outros lhe verem.
Há quem se esconda das oportunidades com medo do que elas lhe trarão.
Ser benquisto já não soa algo tão bom quanto outrora lhe soara.
As pessoas admiram os cansados, os corajosos, os que correm riscos, os que se engajam em uma busca ávida por posições e conquistas. Os que lutam, seja por amor ao dinheiro ou por dinheiro para ter amor.
Há quem queira abrir mão das lisonjas e buscar a felicidade dos ignorantes, dos dispersos, dos insípidos, dos que desconhecem o valor capital da sensatez.
Há quem queira se desobrigar da sanidade e viver uma loucura mais branda que a dos demais homens.
Há quem esteja esperando apenas o sol se por, não importa o quanto demore. Afinal, será o último! Depois disso a noite será eterna e o suor do dia importuno será coberto pelo orvalho de uma noite calma e livre de finais felizes - como lhe disse alguém, nada mais contraditório que o termo "final feliz".

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Sonho com o silêncio

Hoje eu sonhei com o silêncio. Ele era frágil, dócil, nada óbvio aos olhos de quem sempre o imaginou agressivo, impulsivo, invasor. Não era negro como me disseram que são as coisas ruins. Hoje o silêncio se mostrou tão belo... Belo como os filmes de drama, as cenas de morte floridas com fundos musicais que alegram e as imagens de lágrimas que compramos em uma exposição de arte.

Hoje o silêncio me disse muitas coisas. Disse que dentro de si construíra grandes amizades; que um riso preso pode se converter em lágrimas quentes, mas que também as lágrimas presas podem desembolsar ferozes sorrisos e gargalhadas. Me disse o quanto sorri dos alheios, dos pretensos sensatos, dos amigos que juram saber sobre ele e o máximo que vêem é o corpo que o abriga, o dono da alma que mais parece uma marionete que não sabe se obedece aos comandos do vento ou aos berros do próprio espírito.

O sonho não tem uma história, tão imprevisível e autêntico é o silêncio. Apenas sonhei com ele, como um fundo de uma única cor que não seja a transparente. Ele não era um corpo andando ou parado, mas eu sabia que era ele. E ele me disse um nome, mas me pediu segredo. Não quer deixar de se-lo. Apoiei. Não que eu ache que o silêncio seja algo prazeroso - não pareci ser para ele. Mas parecia conveniente naquele momento. Também! Quem sou eu pra dize-lo quando era ou o que não era?

Tinha uma certa tensão no ar. O silêncio me disse que ele era infinito, que de repente desaparecerá (ou será por outro motivo qualquer). Me disse que era amigo da amizade, da cautela, da sabedoria e do amor, mas que também mantinha laços tênues (porém fortes) com a dor, o medo, a covardia e a desilusão. Era preciso andar entre os dois lados sem medo e fortalecer-se alimentando de um pouco de cada, pois o silêncio não tem regras, não tem leis, não pode se privar de algo. É preciso ser fiel aos seus motivos e dançar conforme pede a música.

Me doeu ouvir isso. Enquanto sonhava gelei, suei, me arrepiei e em dados momentos me esforcei para acordar. O silêncio me mostrou coisas valiosas e me revelou que vivia do segredo e o segredo pode ser qualquer coisa, pode ter qualquer densidade. Não se sabe quem pode aguentar! Por isso se cala, não mede esforços em se proteger - vive disso. Uma defesa do outro que mais quer proteger a si mesmo, e vice-versa.

O silêncio me mostrou sua força. Me mostrou que nem belo nem feio: apenas não se pode julga-lo. Prometi aquece-lo, por vezes esquece-lo e defende-lo. Prometi que ia ser silêncio com ele até o momento que deixasse de se-lo. E me tornarei voz com ele quando tudo se transformar em um sonoro e estonteante grito.

domingo, 11 de agosto de 2013

Descobri meu voo na tua liberdade

Naquele dia que eu te dei asas
você voou.
Voou alto e longe.
Voou reto, em ritmo constante.
Tenho certeza que incerto do destino,
mas resistente à ideia de retorno.
Eu te dei uma tal de liberdade
e você quis por tudo conhecê-la.

Confesso que esperava desistência.
O arrependimento não deveria tardar.
Tão logo cansasse do bater não costumeiro das asas,
pensei: no meu seio esse voo há de se encerrar.

Doce engano de alguém que não havia aprendido o que é amar.
Vi sumir teu voo empolgado com teu corpo suave nas encostas da minha saudade.
Mas não tardei tanto a me recompor.
As lágrimas invasivas, compulsivas,
não puderam por muito me acompanhar.

Antes que pudesse esperar teu retorno,
pude a minha própria liberdade experimentar.
Livre, não precisei mais gastar meus dias ao pé da tua gaiola,
com os olhos atentos aos teus movimentos,
com as mãos nervosas testando cadeados,
com o pulso acelerado ao imaginar possibilidades de uma fuga tua.

Fui ali me refrescar.
Há tempos não reparava as próprias asas.
Sorrateira, embaraçada, esqueci-me por segundos de ti,
e bati, desacostumada,
o mais sereno e gracioso voo de minha alma.

Tão logo voei relembrei como era (o meu) voar.
Ai de mim se não tivesse me permitido te soltar.
Agora que relembrei meu voo pude contigo me encontrar.
Antes eu presa a tua gaiola,
agora vou aonde te vejo voar.
Livres sempre juntos.
Antes presos sem se encontrar.
Minha mente procurava teu voo
e tua mente as asas abriam sobre o mar.

Agora que tenho asas, voo.
Voo para onde o vento me levar.
E ele me leva a ti. Olha que graça!
Nem preciso me alvoroçar!
A minha liberdade descubro no teu voo.
E o teu voo liberto nos fez juntos conhecer o que é amar.